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Catar e direitos humanos: o debate sobre a causa LGBTI+ na Copa do Mundo

Entenda por que a escolha pelo Catar como sede do Mundial foi criticada e como isso se reflete dentro e fora de campo

A Copa do Mundo 2022 começou e, de lá para cá, muita coisa já aconteceu – tanto dentro como fora de campo. A FIFA (Federação Internacional de Futebol) proibiu seleções de utilizarem braçadeiras de capitão em apoio à causa LGBTI+ e uma bandeira de Pernambuco foi confiscada na entrada de um estádio ao ser confundida com a do orgulho gay. Só na última sexta-feira (25) o Catar decidiu liberar os torcedores para levarem bandeiras e outros elementos que remetam à causa para os estádios.

Todos estes episódios tão recentes refletem, no entanto, um cenário que já era consolidado muito antes do início da competição.

O Catar, sede do Mundial, localiza-se na península arábica na Ásia Continental, no Oriente Médio. Uma das nações mais ricas do mundo, o país árabe é dono da terceira maior reserva de gás natural, o que equivale a 13% de todas as reservas do mundo. O produto interno bruto (PIB) per capita é de mais de US$ 85 mil, sendo o sexto melhor do planeta.

Trata-se de um emirado absolutista e hereditário comandado pela Casa de Thani desde meados do século 19 . As posições mais importantes no país são ocupadas por membros ou grupos próximos da família al-Thani. A Freedom House considera o país “não livre” e a Anistia Internacional indica várias violações de direitos humanos.

Desde 2010, quando foi anunciado oficialmente que o Catar sediaria a Copa de 2022, a situação dos direitos humanos no país, principalmente em relação à comunidade LGBTI+, mulheres, imigrantes e jornalistas, gerou preocupação e uma série de críticas. A escolha ainda foi acompanha por acusações de que o Catar, que não tem tradições futebolísticas, havia desembolsado muito dinheiro para que pudesse sediar o campeonato. A FIFA investigou o caso e absolveu o país das denúncias.

Ao longo dos 12 anos, na preparação para receber o evento, organizações de direitos humanos fizeram diversas denúncias em relação às condições precárias a que trabalhadores imigrantes eram submetidos no Catar.

Um novo relatório divulgado pelo grupo de direitos humanos Equidem, neste mês, apontou que trabalhadores migrantes que construíram os estádios da Copa sofreram “violações persistentes e generalizadas dos direitos trabalhistas”. Como mostra reportagem da Revista VEJA, as alegações incluem discriminação baseada na nacionalidade, práticas ilegais de recrutamento e até trabalho escravo.

A questão dos direitos humanos no Catar

No Catar, a homossexualidade é crime previsto em lei. Um relatório publicado pela Human Rights Watch denunciou 11 casos de desrespeito aos direitos das pessoas da comunidade LGBTI+ ocorridos no país entre 2019 e 2022.

O ex-jogador de futebol e embaixador da Copa Khalid Salman disse em entrevista a um canal de TV no início de novembro que a homossexualidade é um “dano mental”. Salman afirmou ainda que a população LGBTI+ seria tolerada, mas que “teriam que aceitar as regras” locais durante a Copa.

Esse embate já ficou visível na primeira semana de jogos oficiais. Na última terça-feira (23), a seleção alemã aproveitou sua estreia, no jogo com o Japão, para protestar contra a decisão da Fifa de proibir o uso da braçadeira de capitão “One Love” durante as partidas, em apoio à causa LGBT+. Na hora da foto oficial, os jogadores alemães colocaram a mão na boca ao posar, simbolizando a censura que, segundo eles, foi imposta pela Fifa.

Em coluna publicada no Jornal da USP, Pedro Dallari, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e membro da Comissão dos Direitos Humanos da Universidade, ressaltou que, mesmo sendo um evento esportivo, mais ligado ao campo do entretenimento, a Copa do Mundo do Catar está imersa em um contexto político muito acentuado, que diz respeito ao questionamento generalizado sobre violações de direitos humanos associadas à sua realização.

“Como se pode perceber pelas polêmicas já suscitadas, as próximas semanas serão marcadas pela tensão entre, de um lado, a ideia de globalização, que tem nos direitos humanos um elemento fundamental, e é inerente a um evento global como a Copa do Mundo, e, de outro lado, a situação de desrespeito aos direitos humanos que caracteriza o Catar, país que, por total equívoco, foi escolhido para abrigar a Copa do Mundo”, analisou o professor.

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