O debate sobre o ensino domiciliar no Brasil tem ganhado relevância nos últimos anos, especialmente diante de transformações nos modelos tradicionais de educação. De acordo com Kelsem Ricardo Rios Lima, conhecedor do tema e atento aos desdobramentos educacionais no país, a discussão envolve aspectos jurídicos, pedagógicos e sociais, que exigem uma análise aprofundada para além das polarizações ideológicas. A proposta de permitir que famílias assumam integralmente a responsabilidade pela educação de seus filhos fora do ambiente escolar suscita tanto interesse quanto controvérsia.
Embora o ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, não seja amplamente regulamentado no Brasil, seu reconhecimento tem sido objeto de projetos de lei e decisões judiciais. O tema ganhou força com a pandemia de COVID-19, quando milhares de estudantes passaram a aprender em casa por necessidade. Desde então, muitas famílias passaram a considerar essa alternativa como modelo permanente, alegando maior autonomia pedagógica e alinhamento com seus valores e métodos de ensino.
Ensino domiciliar: fundamentos e posicionamentos
O ensino domiciliar é baseado no princípio de que os pais ou responsáveis têm o direito de escolher a forma como seus filhos serão educados. Em países como Estados Unidos, Canadá e parte da Europa, essa prática é regulamentada há décadas, com regras claras sobre avaliação, currículo mínimo e supervisão estatal. No Brasil, no entanto, o tema ainda encontra barreiras legais e resistência por parte de educadores e juristas.
Segundo Kelsem Ricardo Rios Lima, um dos principais desafios do ensino domiciliar no país é estabelecer um equilíbrio entre o direito à liberdade educacional e o dever do Estado de garantir acesso universal à educação de qualidade. A ausência de uma legislação específica cria um cenário de insegurança jurídica para as famílias que optam por esse modelo, o que limita sua expansão e reconhecimento institucional.

Além disso, há preocupações legítimas sobre a socialização das crianças, o preparo pedagógico dos pais e a eventual reprodução de conteúdos que não atendam aos parâmetros curriculares estabelecidos pelo Ministério da Educação. Por outro lado, defensores do homeschooling argumentam que o ensino domiciliar permite um aprendizado mais individualizado, respeitando o ritmo e os interesses da criança, além de reduzir a exposição a ambientes escolares problemáticos.
Perspectivas de regulamentação e controle
A regulamentação do ensino domiciliar no Brasil é uma demanda recorrente de grupos organizados, que defendem o reconhecimento legal dessa prática com critérios objetivos e supervisão adequada. Projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional propõem requisitos como a obrigatoriedade de cadastro dos estudantes, apresentação de plano pedagógico, avaliações periódicas e comprovação de resultados mínimos.
De acordo com Kelsem Ricardo Rios Lima, é fundamental que qualquer regulamentação considere tanto os direitos das famílias quanto o papel do Estado como garantidor da educação básica. O ensino domiciliar não deve ser tratado como uma escolha isolada da realidade educacional, mas como parte de um ecossistema em que o bem-estar da criança e a qualidade do ensino estejam em primeiro plano.
A fiscalização, nesse contexto, deve ser exercida por meio de parcerias com conselhos tutelares, secretarias de educação e órgãos especializados, a fim de garantir que os direitos das crianças sejam preservados. Um modelo híbrido, que una flexibilidade pedagógica com responsabilidade social, pode ser o caminho mais viável para atender às diferentes realidades brasileiras.
Caminhos possíveis para o futuro da educação em casa
A tendência de crescimento do ensino domiciliar no Brasil exige que o poder público avance em normativas claras e equilibradas, promovendo debates técnicos e ouvindo especialistas de diferentes áreas. O cenário educacional brasileiro é diverso e desigual, o que exige soluções adaptadas às particularidades regionais, culturais e socioeconômicas.
Para Kelsem Ricardo Rios Lima, a consolidação do homeschooling como alternativa legítima depende do compromisso conjunto entre famílias, educadores e autoridades. O ensino domiciliar pode contribuir para uma educação mais humanizada, desde que operado com responsabilidade, transparência e foco no pleno desenvolvimento da criança.
Autor: Rech Kuhn